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80 anos de um dia eterno: O Dia D como a história se tornou mito, de Icles Rodrigues (Resenha)

Ceará, 18 de junho de 2024.

Gutemberg de Queirós Lima*


Fruto da tese de doutoramento, o livro de Icles Rodrigues, reconhecido comunicador do campo da história na internet (através de seu canal Leitura ObrigaHISTÓRIA), fornece um rico panorama de uma das representações históricas do século XX mais recorrentes no campo midiático: o desembarque dos Aliados na Normandia, França.



Crédito da imagem: Amazon.


Pesquisador em História Pública Digital e Segunda Guerra Mundial, Rodrigues já havia publicado materiais abordando a relação entre história e música, chegando a analisar o heavy metal como gênero propagador de memórias da guerra. Mestre e Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o autor continua se dedicando ao seu canal no Youtube, abordando temas históricos de forma didática.


Publicado pela editora Contexto no ano que marca os 80º aniversário do desembarque na Normandia, em O Dia D Rodrigues investe em uma ampla análise para investigar o processo de mitificação da Operação Overlord, uma complexa ação estratégica dos Aliados que visou invadir a França, ocupada pelos nazistas, em 6 de junho de 1944. A operação foi um dos maiores esforços bélicos já registrados na história, constituído por forças de diferentes nações, destacando-se o Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e a Resistência Francesa.



Ronald Reagan discursa em Point-Du-Hoc, Normandia, 1984.



Contudo, tal episódio se consolidou no imaginário contemporâneo como o momento chave de revés da guerra perpetrado apenas pelos Estados Unidos. A partir da lógica do excepcionalismo militar estadunidense, Icles Rodrigues esmiúça tal consolidação em duas partes.


No primeiro momento com a institucionalização do mito, investigando como o 6 de junho foi encarado nos primeiros anos após a invasão em suas comemorações oficiais, para então considerar o papel decisivo dos discursos de presidentes dos Estados Unidos, em especial Ronald Reagan. O autor pauta ainda a importância de outras figuras, como o historiador-memorialista Stephen Ambrose, Bill Clinton e o cineasta Steven Spielberg (que trabalhou com Ambrose em alguns trabalhos).


Em um segundo momento, na globalização do mito, Rodrigues pauta o Dia D através do cinema e dos videogames. Se notabiliza nesse contexto o filme O Resgate do Soldado Ryan (de Steven Spilberg) e os jogos eletrônicos Medal of Honor (também idealizado por Spielberg) e Call of Duty. Nesse segmento, o processo de mitificação do Dia D se consolida de modo mais enfático.


Investindo em uma variedade de fontes primárias e diversificadas (dado sua abordagem com obras audiovisuais e virtuais), Rodrigues elabora um trabalho norteador para pesquisadores que se debruçam nos temas da segunda guerra, monumentalização da memória e história e mídias.



Fotografias de bastidores de O Resgate do Soldado Ryan, de James David, 1998.


A ressalva fica para a análise descentrada do aspecto visual (que predomina suas fontes na segunda etapa do trabalho), não havendo articulação com referenciais que abordam a história visual ou de metodologia de análise imagética (as imagens presentes na edição são meramente ilustrativas). O autor também não considerou o possível impacto das produções de documentários, produzidos efusivamente desde o desenrolar da própria Segunda Guerra.


No entanto, Rodrigues apresenta um trabalho contundente e extremamente didático. Sua desenvoltura narrativa e o trato com as fontes textuais é de uma qualidade roteirística, fazem dele um narrador habilidoso, característica essa tão necessária aos historiadores que diversas vezes se perdem em uma narrativa prolixa e desinteressante. Diante da efeméride de 80 anos do Dia D, o livro de Icles Rodrigues é mais do que uma leitura sugestiva, é uma leitura obriga(his)tória.

 

Rodrigues, Icles. O Dia D: como a história se tornou mito. Editora Contexto: São Paulo, 2024.


 

*GUTEMBERG DE QUEIRÓS LIMA é Bacharel em Humanidades e Licenciado em História pela Universidade Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e Mestre em História e Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLESC). Pesquisador, fotógrafo e professor.

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